Quem não guarda na lembrança um prato feito pela mãe ou pela avó? A nossa memória afetiva é repleta de comidas que, do preparo à mesa posta, contam principalmente com a participação feminina.
Isso não é à toa. Na nossa sociedade, cozinhar como rotina sempre esteve associado a uma atividade feminina. Mas há alguns anos essa associação vem sendo questionada.
É fato que ainda há um longo caminho para equidade de responsabilidades e tarefas, mas o amor pela gastronomia, definitivamente, não é uma questão de gênero. Afinal, a comida é um dos costumes que mais identificam uma cultura.
E é justamente por envolver tantas histórias, culturas e afetos, que cada vez mais a gastronomia tem sido valorizada como profissão. Para algumas mulheres, cozinhar se tornou uma paixão tão grande que elas foram além e investiram na cozinha profissional.
No entanto, quando se trata da alta gastronomia, as mulheres ainda encaram uma série de preconceitos e desafios. A cozinha profissional parece estar limitada à presença masculina e chefs mulheres ainda são minoria em restaurantes.
Em 2020, a revista francesa “Le Chef” publicou uma lista com os 100 melhores Chefs do ano, na qual apenas 4 eram mulheres. Esse é só um exemplo que aponta o caminho cheio de obstáculos que as chefs do gênero feminino enfrentam para atingir reconhecimento.
Essa disparidade de gênero tem raiz histórica. A cozinha clássica se construiu como um espaço masculino. Enquanto as mulheres eram responsáveis pela nutrição da família, a cozinha como “arte superior” era direcionada aos homens como Escoffier, que em 1878 já era considerado um dos nomes mais influentes da cozinha profissional.
Apesar de tantas barreiras como machismo, assédio e pouco apoio, chefs mulheres têm conquistado espaço na alta gastronomia, valorizando raízes, desenvolvendo técnicas únicas e elevando a cozinha profissional a um altíssimo patamar.
No mês das mulheres, destacamos 5 chefs que superaram todos os desafios, fizeram a diferença no cenário gastronômico e ganharam visibilidade e o devido reconhecimento. Confira!
Tatiana Lagrota
Antes de atuar na gastronomia, Tatiana Lagrota trabalhou em multinacionais, mas o amor pelo churrasco falou mais alto. Seguindo os passos da avó banqueteira, ela é a primeira pitmaster – profissional de defumação – do Sul do Brasil.
Mais do que qualquer outro estilo na cozinha profissional, o churrasco e preparos na brasa em geral ainda carregam caráter masculino, mas Tatiana, que revolucionou Curitiba com o american barbecue, prova que lugar de mulher é onde ela quiser.
Helena Rizzo
A gaúcha Helena Rizzo é uma das chefs mais premiadas do país. Foi eleita pela revista Restaurant como a melhor chef mulher do mundo por dois anos seguidos. Além disso, comanda o Maní, o primeiro restaurante chefiado por uma mulher a ganhar uma estrela Michelin.
Os empreendimentos Padoca do Maní e o Restaurante Manioca também fazem parte do Grupo Maní, todos sediados em São Paulo. Helena sempre afirma que a inspiração para se tornar chef sempre veio de mulheres à frente da cozinha.
Roberta Sudbrack
A história da chef Roberta Sudbrack começa em Brasília. Ela vendia cachorro quente nas ruas da capital do país até ir para os Estados Unidos, onde se apaixonou por gastronomia.
Autodidata, conseguiu chefiar a cozinha do Palácio da Alvorada, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Também foi responsável pela alimentação da delegação brasileira nos Jogos Olímpicos de Londres e nos Jogos do Rio.
Depois de todas essas experiências, abriu o RS, restaurante que acumulou diversos prêmios e entre 2012 e 2013 estava entre os 100 melhores restaurantes do mundo pela revista inglesa Restaurant.
Em 2018, Roberta inaugura o Sud, o Pássaro Verde, restaurante que exalta os alimentos frescos, produtos locais e conta com preparos no forno à lenha. Essa empreitada de Roberta tem como inspiração a avó e promove um resgate à comida de conforto, afeto e aconchego sem perder o requinte.
Carmem Virgínia
A chef pernambucana Carmem Virgínia assina a cozinha profissional com muita personalidade, ancestralidade e forte influência regional. Com receitas centenárias, ela comanda o Altar, Cozinha Ancestral, localizado em Recife.
A culinária da chef é baseada em ingredientes como o arroz e o feijão, pilares da cultura alimentar brasileira com ancestralidade africana. Frutos do mar também têm presença forte na cozinha dessa pernambucana.
Carmem ganhou notoriedade ao participar de eventos gastronômicos nacionais e internacionais, além de ter sido jurada no programa Cozinheiros em Ação, do canal por assinatura GNT.
Kátia Barbosa
Conhecida pelo bolinho de feijoada mais famoso do Rio de Janeiro, a chef Kátia Barbosa viu na cozinha profissional uma oportunidade de exaltar a comida brasileira. Dona do Aconchego Carioca e do Bar Kalango, ela traz a influência nordestina da memória afetiva.
Kátia frequentava com o pai a Feira de Tradições Nordestinas, no bairro de São Cristóvão. Mas, até se tornar um dos grandes nomes da cozinha profissional brasileira, fez de tudo um pouco: garçonete, ajudante de cozinha e durante as folgas estudava para criar repertório sem jamais esquecer das raízes.
Atualmente, é a única jurada mulher do programa Mestre do Sabor.
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